21 março 2011

2 dias e 3 Luas Cheias em Cascais

I.
A primeira Lua Cheia foi a de sábado, 19 de Março - equinócio a dar início à Primavera, a marcar a sucessão implacável dos dias, mesmo dos dias felizes, especialmente dos dias felizes.

Dia de estar com os Pais, com a família; um bebé nasceu, outro comemora 1 ano inteirinho com 365 dias irrepetíveis, as crianças aproveitam o dia e as suas oportunidades, um tio envelhece 10 anos num repente, alguém da minha idade luta pela vida, fingindo que é só um pequeno nada maçador que apareceu sem pedir licença e que vai já embora, como uma chamada de call centre que podemos aturar só enquanto nos apetece, os adolescentes aborrecem-se sonolentos pelos cantos, como é suposto, ignorando que nunca terão esse tempo de volta, que os dias e os meses passarão e nunca mais vão sentir tédio, só a vertigem causada pela aceleração do tempo.

Lá em cima, a terminar o dia, a Lua Cheia de equinócio de Primavera, de uma luminosidade quase violenta; o seu reflexo, no mar calmo da Guia, quase encantador. Mas desta Lua não guardei registo, só na memória e nestas palavras.

II.

A segunda Lua Cheia encontrei-a na Casa das Histórias. Sete salas cheias de peças escolhidas por Paula Rego entre a colecção do British Council e contam-se pelos dedos de uma mão as coisas de que gostei.

Esta foi para mim a melhor - aviso que a imagem abaixo não lhe faz justiça. É por isso que gosto de museus e galerias. A dimensão, a cor, a textura, os contrastes, o traço, importam e muito. Só assim ganham vida a crueza da luz lunar, os ciprestes nos quais o velho fixa o olhar, os ciprestes para os quais caminham os enamorados que a criança de olhos pesados aponta, a postura tipicamente felina, em economia de esforço, do gato escanzelado com que a criança absorta brinca.

Michael Ayrton - Full Moon - 1948/1949

III.

A terceira Lua Cheia veio arrastada pela segunda, que me levou a revisitar um dos meus favoritos de quem me trouxe verdadeiramente à exposição - Paula Rego. Fecha-se o ciclo, completa-se o puzzle. A família, as fases da vida, as gerações que se sucedem, a saudade, a comemoração do presente e o abismo que fica já ali ao lado. Também aqui a Lua e o mar servem de pano de fundo.

Paula Rego - A Dança - 1988


4 comentários:

  1. Olá

    Sim, há poucas coisas tão implacaveis como o tempo. Faça-se o que se fizer ele... passa!

    Esta um bocadinho fatalista mas está fixe.
    Manda mais.

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  2. Olá,

    Muito bom este texto. Sempre gostei muito do que escreves e não sei porquê este fez-me recuar à nossa adolescencia. Tenho saudades nossas !!!!!

    Vai escrevendo que eu vou lendo!!!!
    Beijinhos
    Marta

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  3. @Marta

    Feliz ou infelizmente não partilho a saudade da adolescência... mas não é nada contra ti, estávamos todos no mesmo barco :)

    as partes boas (tipo quando me divertia, divertia mesmo, as sensações e sentimentos avassaladores, etc) não compensam todo o resto chato e comprido e entediante. ah, e também havia sempre aquela sensação de inadequação e isolamento no matter what. e também... bem, depois escrevo um post. ou vários. pensando bem, talvez seja melhor um livro.

    e voltamos àquela velha favorita - youth is wasted on the young.

    beijinho

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  4. Mas eu concordo contigo, o teu post fêz-me recuar à adolescencia e ter saudades NOSSAS,não da adolescencia própriamente dita.... não sei se me faço entender!!!

    Beijinhos

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