Se calhar é a minha mania de viver deslumbrada com a vida e as possibilidades que ela oferece, mas saltam-me à vista várias consequências positivas do sobressalto em que vivemos.
Uma delas é o despertar de consciências para a coisa pública. Tornou-se demasiado óbvio que o nosso percurso individual não independe do colectivo.
Há uma grande camada de pessoas, jovens e nem tanto, mas com preparação suficiente para o fazer, que de repente estão a interessar-se por economia, pelo funcionamento da sociedade extraordinariamente complexa em que vivemos e que começam a ter ideias políticas.
Não nos esqueçamos que a democracia em Portugal é jovem e a literacia (mais ou menos...) alargada ainda o é mais.
Chocaram-me pela sua miopia os comentários mais ou menos generalizados de muitos entronizados do costume e de quem os segue que exigiam que os portugueses que se manifestaram massivamente nas ruas em Março apresentassem soluções para tudo e caminhos para tanto. Isso existe em manifestações promovidas por sindicatos, partidos políticos, ou quejandos. Esta iniciativa foi outra coisa.
Esta é uma altura de tomada de consciência, ainda que tardia. Muitas pessoas já têm as suas ideias e estão disponíveis para participar, outras estão ainda à procura da sua voz. Mas há muita gente a pensar e a sentir-se desconfortável cujo próximo passo será contribuir activamente.
Enquanto tudo correu no business as usual quem quis saber o que é dívida soberana ou parcerias público privadas? Enquanto o bolo foi chegando para a maioria, quantos se preocuparam em saber de onde ele vinha e se perguntaram se mereciam comê-lo?
Só cidadãos interessados e informados poderão criar uma sociedade civil mais atenta, intolerante com desgovernos em todos os campos e mais participativa e exigente consigo própria. Which is nice.